domingo, 10 de janeiro de 2016

O encontro

O encontro
Cap. I


Já são 18:00 horas e o expediente na loja de informática e telefones acabara de encerrar. Do outro lado da calçada, Renato, rapaz de 28 anos, administrador de empresas, tenta desesperadamente atravessar a movimentada Avenida Escritor Luiz Santos, que nesse horário, mais parece o trânsito de algumas cidades chinesas, daquelas que vemos nos filmes. Depois de idas e vindas em meio aos carros que não obedecem aos sinais, eis que ele consegue seu objetivo e apressado, adentra a loja que se encontra com as portas arriadas até o meio. De costas está Andréa, que aparenta ter uns 25 anos, moça de pele morena e cabelos cacheados que chama a atenção de Renato.
Ao se virar para falar com ele, Andréa o recepciona com um lindo sorriso, que logo dar lugar às palavras:
– Boa noite, me desculpe, mas a loja já fechou. Renato permanece mudo por alguns segundos, embasbacado com a visão que tem à sua frente. Ei, moço, insiste Andréa. O senhor me ouviu? A loja fechou, funcionamos das 09h00min às 18h00min.
– Sim, ouvi, diz Renato. Por favor, me ajude. Preciso comprar um celular para minha mãe, é aniversário dela hoje e acabei ficando preso em uma reunião que se estendeu muito além do previsto. Com um sorriso no rosto Renato fala à Andréa:
– Não acredito que uma menina tão linda como você, não seja também dona de um lindo coração. Diz que vai abrir uma exceção e vai me atender, diz!?
Olha, responde Andrea, com semblante sério, mas transbordando de felicidade por dentro pelo que ouviu:
– Só por causa do aniversário da sua mãe eu vou lhe atender, afinal, mãe é sagrada, mas não acostuma, hein!? Qual o modelo de telefone que o senhor pretende presentear sua mãe?
Bem, diz Renato:
– Vamos começar de novo. Primeiro, esqueça o senhor e segundo, o meu nome é Renato, obrigado por atender-me.
– Eu também te peço desculpas, na pressa acabei não me apresentando. O meu nome é... 
– Andréa, diz Renato, interrompendo-a delicadamente.
– Como assim? Como você sabe?
– Olhei em seu crachá, responde.
Entre risos e olhares desencontrados, os dois voltam à escolha do celular.
Renato põe a pasta que carrega sobre o balcão, e de dentro tira um encarte da loja, onde há vários modelos de celulares. E por um instante pensa: Mostro logo para ela qual modelo mamãe quer ou estendo a escolha mais um pouco, e assim, fico mais tempo perto dela? Ô dúvida!
Isso faz com que ele deixe escapar um sorriso de canto de boca, logo percebido por Andréa.
O que foi? Pergunta-lhe.
– Nada, foi só um pensamento aqui. É esse aparelho que desejo, diz apontando para uma imagem do encarte.
Andréa abaixa-se por trás do balcão e pega uma caixa com o modelo escolhido.
Após conferir, Renato efetua o pagamento e aguarda que Andréa providencie a embalagem para presente. Tudo providenciado, ambos se despedem desejando boa noite.
Ao sair na calçada Renato nota que todas as lojas da avenida já se encontram fechadas. Preocupado ele volta, pois por sua culpa, a loja de informática e telefonia ficou semiaberta após o horário. Andréa surpreende-se ao vê-lo novamente à porta.
– Não vai me dizer que já veio trocar, não é!? Brinca Andréa.
– Na verdade, vim te ajudar a fechar a loja. Você me ajudou nada mais justo do que eu te ajudar, concorda? Ah, mesmo que digas não, vou te ajudar assim mesmo.
– Mas o que te fez pensar que não aceitaria? Fique a vontade. Não levo muito jeito com essa porta.
Em seguida ao fechamento da loja os dois seguem conversando em direção ao estacionamento da esquina. Chegando, Renato pára, mas Andréa segue. Ei, vai para onde?
– Vou pegar um ônibus para ir à faculdade.
– Aceita uma carona de um estranho? Fala Renato.
– Bem, como estou atrasada para a primeira aula vou aceitar, mas vou logo avisando, você foi filmado durante todo o tempo que esteve na loja, aliás, desde o momento que entrou (risos).
– Não se preocupe, chegará sã e salva à faculdade... qual é mesmo a faculdade?
– Faculdade Venceslau Braz, perto daqui. Conhece?
– Sim, é meu caminho para casa.
Renato abre a porta do carro para Andréa e em seguida toma seu lugar ao volante, dando partida no carro.
Bom saber que corro o risco te encontrar por lá durante minha passagem. Se bem que é mais fácil te ver na loja (risos).
– Bobo, porque um cara lindo igual a você, que pelo que vejo, acredito ter um bom emprego, iria querer ver uma simples balconista?
– Seria pelo fato do cara bonito com um bom emprego estar começando a acreditar em amor à primeira vista? Com essa resposta em forma de pergunta Renato deixa Andréa calada.
– Olha, chegamos. Pode me deixar aqui mesmo. Muito obrigado pela carona, foi um prazer te conhecer.
– Digo o mesmo, Andréa.
Os dois se despedem com um beijo no rosto e um segurar de mãos que mesmo sendo rápido, deixa-os com um desejo que aquele momento nunca se acabe.
Ana e Emanuele, amigas de Andréa que também estão atrasadas veem a cena e param na escadaria para esperar a amiga.
Andréa sai do carro e com passos apressados vai de encontro às amigas. Se juntando a elas, olha para Renato, que se mantém parado com o olhar fixo em sua direção. Andréa acena e faz um gesto para que ele se vá, mas como resposta ela recebe um aceno negativo. Emanuele então a encoraja a voltar ao carro para ver o que ele quer.
– Você não vai embora?
– Sem deixar o meu número do celular? Não. Diz Renato, entregando-a um cartão de visita seu. Esse seu ato faz com que ela também lhe dê o seu número de telefone.
– Pronto, agora posso ir embora. Bom estudo para você.
– Obrigada, tchau.
Ao se aproximar das amigas, Andréa é bombardeada de perguntas, ambas querem saber tudo sobre “o cara do carro preto”, sim, agora será dessa forma que Renato passará a ser conhecido entre elas.
Sorridentes as três amigas vão para a sala de aula, onde a professora de Biologia já as observa pela porta entreaberta e, diga-se de passagem, a fisionomia dela não é nada boa. Todas se sentam em suas carteiras e passam a observar a aula, que por sinal é bastante longa.
Ao chegar a sua casa, onde mora com seus pais, uma irmã e um irmão, Andréa encontra apenas o pai acordado assistindo uma luta de boxe pela TV. Vai até ele e dá-lhe boa noite e um beijo na testa e em seguida sobe para seu quarto.
Seu pensamento volta-se para Renato, aliás, continua, afinal, desde que se despediram, não conseguiu parar de pensar nele. 
Cansada, vai ao armário e pega uma toalha, tudo que mais quer é tomar uma ducha e relaxar. Já no banheiro, calmamente se despe e entra no boxe, liga o chuveiro e deixar a água quente cair sobre seu corpo. Andréa pega o sabonete e com movimentos suaves começa a deslizá-lo por sua pele. De repente, esboça um sorriso e ao mesmo tempo se repreende.
– Calma Andréa, você acabou de conhecer esse cara, calma (risos).
Mas a própria repreensão não a impede de continuar com seus pensamentos proibidos.
Ao sair do banho pega uma escova na cômoda e em frente ao espelho escova seus lindos e negros cabelos. Aproveitando que ainda está nua e em pé, realiza o autoexame da mama seguindo os três passos principais que incluem fazer observação em frente ao espelho, palpar a mama de pé e repetir a palpação deitada.
Após terminar o autoexame põe uma camisola transparente e deita-se para dormir. Mas antes abre a bolsa e tira o cartão de Renato e por alguns segundos, pensa em ligar para ele. Olha as horas em seu celular e desiste, já é tarde. Quando já estava adormecendo é despertada pelo toque do aparelho, era ele, que diferentemente dela, não levou em consideração o horário. Andréa atende sem saber quem é, afinal, ela ainda não armazenou o número dele em seus contatos. Quando Renato se identifica seus olhos brilham, sua voz quase falha, em seu rosto a felicidade fica estampada em forma de um grande sorriso.
Os dois começam a conversar e adentram a madrugada, falam sobre como são seus dias no trabalho, do que gostam de fazer em seus horários de folga e principalmente, falam sobre seus status em relação a compromissos amorosos. Ambos estão solteiros.
Antes do fim da conversa eles marcam de se encontrar naquele dia após o fechamento da loja onde Andréa trabalha. Fica combinado de Renato buscá-la ás 18:15 min. Ao desligarem os telefones ambos sorriem maravilhados. Andréa logo adormece já Renato vai para a janela do seu apartamento e fica olhando o luar, que está lindo. Seus pensamentos estão voltados para aquela menina linda que acabara de conhecer, mas seu coração alheio a esse fato aumenta a cadência de suas batidas todas às vezes que ela invade seu juízo. Ele não vê a hora de estar com ela novamente, mas dessa vez sem pressa, afinal, não haverá aulas hoje. As horas passam e o sono aos poucos vence sua resistência, hora de ir para a cama, mas antes ele caminha até a cozinha, pega um copo no armário, abre a geladeira e toma água. Agora sim ele volta para o quarto e também logo adormece.
Às 08:00 horas o pai de Andréa bate à porta do seu quarto e a acorda. Ela olha a hora e se desespera, a distância de sua casa para o trabalho é longa, certamente chegará atrasada. Apressada toma banho e pega a primeira roupa que ver pela frente, penteia o cabelo e desce para a cozinha onde já se encontram seus pais e irmãos.
– Bom dia família. Não poderei desfrutar do café da manhã com vocês, estou atrasada.
– Filha, diz com voz serena o Sr. Antenor, eu te levo ao trabalho, tome o café com a gente.
– Obrigado, pai. O senhor é o melhor pai do mundo. Aliás, esta é a melhor família do mundo.
Assim, ela pôde ficar e tomar o seu café da manhã.
Ainda sonolento devido ao fato de ter ido dormir tarde Renato se levanta às 09:00 horas e vai direto para o banheiro, toma banho e volta para o quarto, abre o armário e escolhe um belo terno e põe o seu melhor perfume. Nesse momento ela rir e fala para ele mesmo:
– É rapaz, hoje você vai se encontrar com o amor da sua vida, com aquela com quem você sempre sonhou, não erre nada, conquiste-a. E decidido ele sai.
Durante o dia Andréa liga para Emanuele, a amiga da faculdade, e fala sobre Renato, inclusive sobre o encontro marcado.
– Menina, que máxima essa sua história, isso vai dar casamento, hein!? Mas me diz uma coisa, caprichou no visual?
Nesse momento Andréa se olha na vitrine da loja e ver que não, ela não havia caprichado no visual.
– Amiga você não vai acreditar, mas acordei atrasada hoje e peguei o primeiro vestido que vi pela frente, estou horrível. E agora? Acho que vou ligar para ele e desmarcar. Deixarei para outro dia.
– Você está maluca? Vai do jeito que está, se ele realmente está interessado em você, não será uma roupa que o fará mudar de ideia. 
– Sei não Manu, ele é todo alinhado, se veste super bem, você viu lá na faculdade.
– Amiga algo me diz que vocês foram feitos um para o outro, sabe “aquela parada de amor a primeira vista”? Acho que é isso que está rolando entre vocês.
As duas riem e Andréa diz que também acha isso. A conversa delas é interrompida por duas clientes que chegam à loja e Andréa se despede de Manu.
– Bom dia senhoras, posso ajudar? E o atendimento segue.
Enquanto isso Renato pára em uma padaria próxima ao trabalho e compra um café expresso, entra no carro e segue.
Ao chegar à empresa um grupo de executivos já se encontra na sala de reunião, para onde também se direciona. Ao adentrar ele cumprimenta a todos e avisa que ainda terá que esperar mais 10 minutos para dar início à reunião. Enquanto aguarda seus pensamentos voam até a loja do outro lado da rua, é lá que deseja estar o mais breve possível.
Enfim, a reunião começa e Renato apresenta suas idéias inovadoras para o crescimento da empresa.
Às 18:00 horas Manu liga para Andréa, que saber se está tudo correndo bem. Depois da resposta da amiga ela deseja boa sorte e diz que está na torcida. Mal acaba de desligar o telefone, Andréa ver Renato parado na calçada à sua espera, dez minutos adiantado. Ela dá um sorriso, acena para ele e em seu pensamento vem a frase:
– Maluco, só pode ser maluco.
Ela faz a contabilidade do dia, fecha o caixa e vai até ao lavabo passar maquiagem e baton. Ao se olhar no espelho ela suspira fundo e por alguns segundos, pensa em desistir devido ao fato de estar com um vestido simples.
– Andréa... a voz grave de Renato desfaz seus pensamentos. Ele está à porta lhe esperando.
Os dois fecham a loja e saem em direção ao carro, nesse instante Renato segura a mão de Andréa, que se encontra gelada de ansiedade e nervosismo, algo que nunca lhe havia acontecido.
Eles seguem pela orla marítima e Andréa fala de como é bom poder apreciar a areia e o mar dali, à noite.
De repente ela olha fixo para ele e fala:
– Me desculpe pela pergunta, mas nós vamos para onde? Não me leve para nenhum lugar chick, estou horrível, acordei atrasada e vesti qualquer coisa.
– Não se preocupe, vou te levar para um lugar onde você será a principal presença. E outra coisa, quem te disse que você está horrível? Olhando daqui para você eu vejo uma mulher linda, sensual e com as bochechas vermelhas (risos).
– Pára, estou ficando sem graça...
Nesse momento de descontração Renato pára o carro no acostamento, olha nos olhos de Andréa, suas mãos vão à sua nuca e num movimento delicado traz sua boca para perto da dele. Andréa já não fala mais nada, apenas fecha os olhos e deixa acontecer. Quando seus lábios se encontram, promovem o mais demorado bailar de suas línguas. Os dois se beijam apaixonadamente, é algo inexplicável o que estão sentindo um pelo outro.
– Ei, vocês dois aí, acostamento não é para namorar, diz um policial militar que por ali fazia ronda.
– Tuuudo bem seu guarda, estamos saindo, bom trabalho, eles dizem simultaneamente.
E como se fossem duas crianças que acabaram de “fazer uma arte”, sai dali aos risos o mais rápido que podem.
Logo adiante Renato pára em uma loja de conveniência e os dois entram. Eles compram sucos, biscoitos, chicletes e outras guloseimas. Andréa, curiosa, pergunta o que ele está aprontando e a resposta vem em forma de sorriso. Ele estende sua mão para ela e saem da loja. De volta ao carro Andréa percebe que estão voltando para a orla, mas a essa altura ela já não pergunta mais nada, ela já desconfia do que vai acontecer.
– Pronto, chegamos ao nosso destino, vamos para mais perto da água, está bom? É aqui que será nosso primeiro encontro, na areia da praia, vendo o mar, ouvindo o seu som e vigiados por essa linda Lua. Você topa?
– Mas é claro que topo, olha não liga para o que vou falar, mas estar aqui com você é um sonho, você é um cara especial, contigo eu não tenho medo, me sinto segura, protegida e acredite me sinto amada. Não vá sair correndo, pensando que sou maluca, mas senti uma vontade enorme de te falar iss... suas palavras são interrompidas por um beijo. Tudo que haviam comprados caem na alva areia, os dois se beijam, se abraçam, ambos tomados por grande desejo. Seus corpos vão descendo até encontrarem a areia, Renato deita-se sobre Andréa e seus beijos ficam cada vez mais fervorosos, mais ardentes... seus desejos afloram, mas apesar da praia estar deserta, esse é o primeiro encontro deles. Será que resistirão aos desejos de seus corpos, será que se amarão ali na areia?
Bem, essa é uma outra história.

Luiz Santos
Rio de Janeiro – RJ

2 comentários:

  1. Indicado ao Prêmio Dardos
    http://varaldepoesia.blogspot.com.br/2016/01/premio-dardos.html

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    1. Boa noite, Marli Fiorentin.
      Me desculpe, mas só hoje pude ver seu comentário, tudo devido a um vírus em meu computador.

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