O encontro
Cap. I
Já são 18:00 horas e o
expediente na loja de informática e telefones acabara de encerrar. Do outro
lado da calçada, Renato, rapaz de 28 anos, administrador de empresas, tenta
desesperadamente atravessar a movimentada Avenida
Escritor Luiz Santos, que nesse
horário, mais parece o trânsito de algumas cidades chinesas, daquelas que vemos
nos filmes. Depois de idas e vindas em meio aos carros que não obedecem aos
sinais, eis que ele consegue seu objetivo e apressado, adentra a loja que se
encontra com as portas arriadas até o meio. De costas está Andréa, que aparenta
ter uns 25 anos, moça de pele morena e cabelos cacheados que chama a atenção de
Renato.
Ao se virar para falar com
ele, Andréa o recepciona com um lindo sorriso, que logo dar lugar às palavras:
– Boa noite, me desculpe,
mas a loja já fechou. Renato permanece mudo por alguns segundos, embasbacado
com a visão que tem à sua frente. Ei, moço, insiste Andréa. O senhor me ouviu?
A loja fechou, funcionamos das 09h00min às 18h00min.
– Sim, ouvi, diz Renato.
Por favor, me ajude. Preciso comprar um celular para minha mãe, é aniversário
dela hoje e acabei ficando preso em uma reunião que se estendeu muito além do
previsto. Com um sorriso no rosto Renato fala à Andréa:
– Não acredito que uma
menina tão linda como você, não seja também dona de um lindo coração. Diz que
vai abrir uma exceção e vai me atender, diz!?
Olha, responde Andrea, com
semblante sério, mas transbordando de felicidade por dentro pelo que ouviu:
– Só por causa do
aniversário da sua mãe eu vou lhe atender, afinal, mãe é sagrada, mas não
acostuma, hein!? Qual o modelo de telefone que o senhor pretende presentear sua
mãe?
Bem, diz Renato:
– Vamos começar de novo.
Primeiro, esqueça o senhor e segundo, o meu nome é Renato, obrigado por
atender-me.
– Eu também te peço
desculpas, na pressa acabei não me apresentando. O meu nome é...
– Andréa, diz Renato,
interrompendo-a delicadamente.
– Como assim? Como você
sabe?
– Olhei em seu crachá,
responde.
Entre risos e olhares
desencontrados, os dois voltam à escolha do celular.
Renato põe a pasta que
carrega sobre o balcão, e de dentro tira um encarte da loja, onde há vários
modelos de celulares. E por um instante pensa: Mostro logo para ela qual modelo
mamãe quer ou estendo a escolha mais um pouco, e assim, fico mais tempo perto
dela? Ô dúvida!
Isso faz com que ele deixe
escapar um sorriso de canto de boca, logo percebido por Andréa.
O que foi? Pergunta-lhe.
– Nada, foi só um
pensamento aqui. É esse aparelho que desejo, diz apontando para uma imagem do
encarte.
Andréa abaixa-se por trás
do balcão e pega uma caixa com o modelo escolhido.
Após conferir, Renato
efetua o pagamento e aguarda que Andréa providencie a embalagem para presente.
Tudo providenciado, ambos se despedem desejando boa noite.
Ao sair na calçada Renato
nota que todas as lojas da avenida já se encontram fechadas. Preocupado ele
volta, pois por sua culpa, a loja de informática e telefonia ficou semiaberta após
o horário. Andréa surpreende-se ao vê-lo novamente à porta.
– Não vai me dizer que já
veio trocar, não é!? Brinca Andréa.
– Na verdade, vim te
ajudar a fechar a loja. Você me ajudou nada mais justo do que eu te ajudar,
concorda? Ah, mesmo que digas não, vou te ajudar assim mesmo.
– Mas o que te fez pensar
que não aceitaria? Fique a vontade. Não levo muito jeito com essa porta.
Em seguida ao fechamento
da loja os dois seguem conversando em direção ao estacionamento da esquina.
Chegando, Renato pára, mas Andréa segue. Ei, vai para onde?
– Vou pegar um ônibus para
ir à faculdade.
– Aceita uma carona de um
estranho? Fala Renato.
– Bem, como estou atrasada
para a primeira aula vou aceitar, mas vou logo avisando, você foi filmado
durante todo o tempo que esteve na loja, aliás, desde o momento que entrou
(risos).
– Não se preocupe, chegará
sã e salva à faculdade... qual é mesmo a faculdade?
– Faculdade Venceslau
Braz, perto daqui. Conhece?
– Sim, é meu caminho para
casa.
Renato abre a porta do
carro para Andréa e em seguida toma seu lugar ao volante, dando partida no
carro.
Bom saber que corro o
risco te encontrar por lá durante minha passagem. Se bem que é mais fácil te
ver na loja (risos).
– Bobo, porque um cara
lindo igual a você, que pelo que vejo, acredito ter um bom emprego, iria querer
ver uma simples balconista?
– Seria pelo fato do cara
bonito com um bom emprego estar começando a acreditar em amor à primeira vista?
Com essa resposta em forma de pergunta Renato deixa Andréa calada.
– Olha, chegamos. Pode me
deixar aqui mesmo. Muito obrigado pela carona, foi um prazer te conhecer.
– Digo o mesmo, Andréa.
Os dois se despedem com um
beijo no rosto e um segurar de mãos que mesmo sendo rápido, deixa-os com um
desejo que aquele momento nunca se acabe.
Ana e Emanuele, amigas de
Andréa que também estão atrasadas veem a cena e param na escadaria para esperar
a amiga.
Andréa sai do carro e com
passos apressados vai de encontro às amigas. Se juntando a elas, olha para
Renato, que se mantém parado com o olhar fixo em sua direção. Andréa acena e
faz um gesto para que ele se vá, mas como resposta ela recebe um aceno
negativo. Emanuele então a encoraja a voltar ao carro para ver o que ele quer.
– Você não vai embora?
– Sem deixar o meu número
do celular? Não. Diz Renato, entregando-a um cartão de visita seu. Esse seu ato
faz com que ela também lhe dê o seu número de telefone.
– Pronto, agora posso ir
embora. Bom estudo para você.
– Obrigada, tchau.
Ao se aproximar das
amigas, Andréa é bombardeada de perguntas, ambas querem saber tudo sobre “o
cara do carro preto”, sim, agora será dessa forma que Renato passará a ser
conhecido entre elas.
Sorridentes as três amigas
vão para a sala de aula, onde a professora de Biologia já as observa pela porta
entreaberta e, diga-se de passagem, a fisionomia dela não é nada boa. Todas se
sentam em suas carteiras e passam a observar a aula, que por sinal é bastante
longa.
Ao chegar a sua casa, onde
mora com seus pais, uma irmã e um irmão, Andréa encontra apenas o pai acordado
assistindo uma luta de boxe pela TV. Vai até ele e dá-lhe boa noite e um beijo
na testa e em seguida sobe para seu quarto.
Seu pensamento volta-se
para Renato, aliás, continua, afinal, desde que se despediram, não conseguiu
parar de pensar nele.
Cansada, vai ao armário e
pega uma toalha, tudo que mais quer é tomar uma ducha e relaxar. Já no
banheiro, calmamente se despe e entra no boxe, liga o chuveiro e deixar a água
quente cair sobre seu corpo. Andréa pega o sabonete e com movimentos suaves
começa a deslizá-lo por sua pele. De repente, esboça um sorriso e ao mesmo
tempo se repreende.
– Calma Andréa, você
acabou de conhecer esse cara, calma (risos).
Mas a própria repreensão
não a impede de continuar com seus pensamentos proibidos.
Ao sair do banho pega uma
escova na cômoda e em frente ao espelho escova seus lindos e negros cabelos.
Aproveitando que ainda está nua e em pé, realiza o autoexame da mama seguindo
os três passos principais que incluem fazer observação em frente ao espelho,
palpar a mama de pé e repetir a palpação deitada.
Após terminar o autoexame
põe uma camisola transparente e deita-se para dormir. Mas antes abre a bolsa e
tira o cartão de Renato e por alguns segundos, pensa em ligar para ele. Olha as
horas em seu celular e desiste, já é tarde. Quando já estava adormecendo é
despertada pelo toque do aparelho, era ele, que diferentemente dela, não levou
em consideração o horário. Andréa atende sem saber quem é, afinal, ela ainda
não armazenou o número dele em seus contatos. Quando Renato se identifica seus
olhos brilham, sua voz quase falha, em seu rosto a felicidade fica estampada em
forma de um grande sorriso.
Os dois começam a
conversar e adentram a madrugada, falam sobre como são seus dias no trabalho,
do que gostam de fazer em seus horários de folga e principalmente, falam sobre
seus status em relação a compromissos amorosos. Ambos estão solteiros.
Antes do fim da conversa
eles marcam de se encontrar naquele dia após o fechamento da loja onde Andréa
trabalha. Fica combinado de Renato buscá-la ás 18:15 min. Ao desligarem os
telefones ambos sorriem maravilhados. Andréa logo adormece já Renato vai para a
janela do seu apartamento e fica olhando o luar, que está lindo. Seus
pensamentos estão voltados para aquela menina linda que acabara de conhecer,
mas seu coração alheio a esse fato aumenta a cadência de suas batidas todas às
vezes que ela invade seu juízo. Ele não vê a hora de estar com ela novamente,
mas dessa vez sem pressa, afinal, não haverá aulas hoje. As horas passam e o
sono aos poucos vence sua resistência, hora de ir para a cama, mas antes ele
caminha até a cozinha, pega um copo no armário, abre a geladeira e toma água.
Agora sim ele volta para o quarto e também logo adormece.
Às 08:00 horas o pai de
Andréa bate à porta do seu quarto e a acorda. Ela olha a hora e se desespera, a
distância de sua casa para o trabalho é longa, certamente chegará atrasada.
Apressada toma banho e pega a primeira roupa que ver pela frente, penteia o
cabelo e desce para a cozinha onde já se encontram seus pais e irmãos.
– Bom dia família. Não
poderei desfrutar do café da manhã com vocês, estou atrasada.
– Filha, diz com voz
serena o Sr. Antenor, eu te levo ao trabalho, tome o café com a gente.
– Obrigado, pai. O senhor
é o melhor pai do mundo. Aliás, esta é a melhor família do mundo.
Assim, ela pôde ficar e
tomar o seu café da manhã.
Ainda sonolento devido ao
fato de ter ido dormir tarde Renato se levanta às 09:00 horas e vai direto para
o banheiro, toma banho e volta para o quarto, abre o armário e escolhe um belo
terno e põe o seu melhor perfume. Nesse momento ela rir e fala para ele mesmo:
– É rapaz, hoje você vai
se encontrar com o amor da sua vida, com aquela com quem você sempre sonhou,
não erre nada, conquiste-a. E decidido ele sai.
Durante o dia Andréa liga
para Emanuele, a amiga da faculdade, e fala sobre Renato, inclusive sobre o
encontro marcado.
– Menina, que máxima essa
sua história, isso vai dar casamento, hein!? Mas me diz uma coisa, caprichou no
visual?
Nesse momento Andréa se
olha na vitrine da loja e ver que não, ela não havia caprichado no visual.
– Amiga você não vai
acreditar, mas acordei atrasada hoje e peguei o primeiro vestido que vi pela
frente, estou horrível. E agora? Acho que vou ligar para ele e desmarcar.
Deixarei para outro dia.
– Você está maluca? Vai do
jeito que está, se ele realmente está interessado em você, não será uma roupa
que o fará mudar de ideia.
– Sei não Manu, ele é todo
alinhado, se veste super bem, você viu lá na faculdade.
– Amiga algo me diz que
vocês foram feitos um para o outro, sabe “aquela parada de amor a primeira
vista”? Acho que é isso que está rolando entre vocês.
As duas riem e Andréa diz
que também acha isso. A conversa delas é interrompida por duas clientes que
chegam à loja e Andréa se despede de Manu.
– Bom dia senhoras, posso
ajudar? E o atendimento segue.
Enquanto isso Renato pára
em uma padaria próxima ao trabalho e compra um café expresso, entra no carro e
segue.
Ao chegar à empresa um
grupo de executivos já se encontra na sala de reunião, para onde também se
direciona. Ao adentrar ele cumprimenta a todos e avisa que ainda terá que
esperar mais 10 minutos para dar início à reunião. Enquanto aguarda seus
pensamentos voam até a loja do outro lado da rua, é lá que deseja estar o mais
breve possível.
Enfim, a reunião começa e
Renato apresenta suas idéias inovadoras para o crescimento da empresa.
Às 18:00 horas Manu liga
para Andréa, que saber se está tudo correndo bem. Depois da resposta da amiga
ela deseja boa sorte e diz que está na torcida. Mal acaba de desligar o
telefone, Andréa ver Renato parado na calçada à sua espera, dez minutos
adiantado. Ela dá um sorriso, acena para ele e em seu pensamento vem a frase:
– Maluco, só pode ser
maluco.
Ela faz a contabilidade do
dia, fecha o caixa e vai até ao lavabo passar maquiagem e baton. Ao se olhar no
espelho ela suspira fundo e por alguns segundos, pensa em desistir devido ao
fato de estar com um vestido simples.
– Andréa... a voz grave de
Renato desfaz seus pensamentos. Ele está à porta lhe esperando.
Os dois fecham a loja e
saem em direção ao carro, nesse instante Renato segura a mão de Andréa, que se
encontra gelada de ansiedade e nervosismo, algo que nunca lhe havia acontecido.
Eles seguem pela orla
marítima e Andréa fala de como é bom poder apreciar a areia e o mar dali, à
noite.
De repente ela olha fixo
para ele e fala:
– Me desculpe pela
pergunta, mas nós vamos para onde? Não me leve para nenhum lugar chick, estou
horrível, acordei atrasada e vesti qualquer coisa.
– Não se preocupe, vou te
levar para um lugar onde você será a principal presença. E outra coisa, quem te
disse que você está horrível? Olhando daqui para você eu vejo uma mulher linda,
sensual e com as bochechas vermelhas (risos).
– Pára, estou ficando sem
graça...
Nesse momento de
descontração Renato pára o carro no acostamento, olha nos olhos de Andréa, suas
mãos vão à sua nuca e num movimento delicado traz sua boca para perto da dele.
Andréa já não fala mais nada, apenas fecha os olhos e deixa acontecer. Quando
seus lábios se encontram, promovem o mais demorado bailar de suas línguas. Os
dois se beijam apaixonadamente, é algo inexplicável o que estão sentindo um
pelo outro.
– Ei, vocês dois aí,
acostamento não é para namorar, diz um policial militar que por ali fazia
ronda.
– Tuuudo bem seu guarda,
estamos saindo, bom trabalho, eles dizem simultaneamente.
E como se fossem duas
crianças que acabaram de “fazer uma arte”, sai dali aos risos o mais rápido que
podem.
Logo adiante Renato pára
em uma loja de conveniência e os dois entram. Eles compram sucos, biscoitos, chicletes
e outras guloseimas. Andréa, curiosa, pergunta o que ele está aprontando e a
resposta vem em forma de sorriso. Ele estende sua mão para ela e saem da loja.
De volta ao carro Andréa percebe que estão voltando para a orla, mas a essa
altura ela já não pergunta mais nada, ela já desconfia do que vai acontecer.
– Pronto, chegamos ao
nosso destino, vamos para mais perto da água, está bom? É aqui que será nosso
primeiro encontro, na areia da praia, vendo o mar, ouvindo o seu som e vigiados
por essa linda Lua. Você topa?
– Mas é claro que topo,
olha não liga para o que vou falar, mas estar aqui com você é um sonho, você é
um cara especial, contigo eu não tenho medo, me sinto segura, protegida e
acredite me sinto amada. Não vá sair correndo, pensando que sou maluca, mas
senti uma vontade enorme de te falar iss... suas palavras são interrompidas por
um beijo. Tudo que haviam comprados caem na alva areia, os dois se beijam, se
abraçam, ambos tomados por grande desejo. Seus corpos vão descendo até
encontrarem a areia, Renato deita-se sobre Andréa e seus beijos ficam cada vez
mais fervorosos, mais ardentes... seus desejos afloram, mas apesar da praia
estar deserta, esse é o primeiro encontro deles. Será que resistirão aos
desejos de seus corpos, será que se amarão ali na areia?
Bem, essa é uma outra
história.
Luiz Santos
Rio de Janeiro – RJ
Indicado ao Prêmio Dardos
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Boa noite, Marli Fiorentin.
EliminarMe desculpe, mas só hoje pude ver seu comentário, tudo devido a um vírus em meu computador.